Arquivo

Archive for março \11\-03:00 2011

Não confunda Barnes & Noble com Borders

11 de março de 2011 5 comentários

Em Hendersoville, umas das mais de 700 livrarias da Barnes & Noble nos EUA (© Ed!; Wikipedia)

Quando o PublishNews começou, 10 anos atrás, éramos apenas um clipping de notícias. Ao longo desta década de vida, crescemos, amadurecemos e passamos a publicar notas e notícias próprias, em primeira mão, mas sempre mantivemos nosso clipping, consciente que nossos leitores querem saber o que está sendo publicado sobre o mercado editorial nos principais jornais do Brasil. Esta diretriz nos obriga, muitas vezes, a clippar notícias com informações que questionamos ou mesmo que consideramos equivocadas. E foi isto o que aconteceu na edição de ontem, 10 de março, quando incluímos uma menção e o link ao artigo Livrarias dos EUA lutam para sobreviver, publicado em O Estado de S.Paulo no dia 6 do mesmo mês.

Assinado por Gustavo Chacra, o texto foi publicado no caderno de Economia e trazia uma análise das dificuldades atuais das livrarias norte-americanas. O gancho era o pedido de concordata da rede de livrarias Borders, segunda maior dos EUA, no mês passado. Até aí, tudo bem. Mas o problema começa quando o artigo começa a tratar todas as livrarias como uma coisa só, e afirma: “A Borders decretou concordata na semana passada, […] e está em estado terminal. A concorrente Barnes & Noble também corre o risco de seguir o mesmo caminho.” Simplesmente não dá para colocar a Borders e a Barnes & Noble no mesmo saco. É verdade que a loja símbolo da Barnes & Noble, localizada no Lincoln Center, em Nova Iorque, foi fechada recentemente para desespero dos literati do Upper West Side. No entanto, a Barnes & Noble possui 705 lojas nos EUA e o fechamento de uma delas, por mais triste que seja, não pode ser confundido com uma crise terminal da rede.

Enquanto a Borders vem agonizando há anos, sob uma administração no mínimo questionável, a Barnes & Noble acabou de divulgar os resultados para seu terceiro trimestre fiscal que se encerrou ao fim de janeiro. Com um faturamento no periodo de US$ 2,3 bilhões, representando um crescimento de 7% em relação ao ano passado, não se pode dizer que a empresa esteja agonizante. Em sua lorja virtual, a Barnes&Noble.com, as vendas aumentaram 53% turbinadas pelas vendas de e-books e do leitor digital Nook Color. De acordo com um discurso proferio esta semana pelo presidente do conselho da empresa, Len Riggio, a rede já possui uma fatia de mercado de 25% nas vendas de livros digitais. Nada mal, considerando a hegemonia da Amazon. [Clique aqui para ler o discurso de Len Riggio na íntegra, traduzido para o português pela nossa redação.]

Os lucros, é verdade, caíram 25% no trimestre e ficaram em US$ 60,6 milhões. Mas esta era uma queda já prevista pela própria empresa. O que realmente abalou um pouco o mercado de Wall Street foi a decisão de não distribuir dividendos para que a empresa pudesse investir mais em suas iniciativas digitais. Isto levou a uma queda considerável nas últimas semanas do valor das ações da Barnes & Noble na bolsa de Nova Iorque.

Mas a grande verdade é que a Barnes & Noble tem mostrado grande capacidade de adaptação ao novo mundo digital e é uma empresa bem mais robusta que a Borders. Para se ter uma idéia, a Borders tinha um endividamento líquido (dívidas menos patrimônio) de US$ 40 milhões, enquanto a Barnes & Noble ficaria com US$ 900 milhões em caixa hoje se vendesse seu patrimônio e pagasse suas dívidas.

O grande desafio da empresa agora é realmente tornar sua loja virtual lucrativa. Apesar de seu faturamento virtual ter chegado a US$ 319,4 milhões no trimestre, um crescimento de US$ 110 milhões, trata-se da unidade de negócios do grupo com o pior retorno de investimentos e um prejuízo (Ebitda) de US$ 50,5 milhões. Mas o futuro parece promissor. Afinal, o Nook Color tem sido apontado em pesquisas como o leitor dedicado de maior aceitação do público e a segunda posição no mercado de e-books parece assegurada pela empresa.

Vale lembrar também que com o colapso da Borders, que era responsável por 8% das vendas de livros nos EUA, a Barnes& Noble tem tudo para ser a grande beneficiária. Segundo analistas do Credit Suisse, a Barnes & Noble deve ficar com 50% dos negócios da Borders após suas lojas fecharem. E como quase 70% das lojas das duas redes competiam entre si, isto parece bastante plausível. O presidente da Barnes & Noble, William Lynch, até já declarou que a empresa poderá comprar uma pequena quantidade de lojas da Borders.

Concluindo, estamos em um período crítico para as livrarias nos EUA. Mas serão dias que podem ser vistos como de crise ou de oportunidade. A Barnes & Noble parece encarar o momento como de oportunidade, se atentarmos às palavras presidente do conselho da empresa esta semana. Mas, mais importante, é não achar que o fechamento de uma livraria em Manhattan significa que a Barnes & Noble está indo pelo mesmo buraco que a Borders. Risco, é claro, sempre existe. Mas faz parte de qualquer negócio.